décima quarta história
Senhor Silva Ferreira era como tantas aquelas pessoas que passam por nós todos os dias, pessoa pelas quais passamos e passarão.
Mas quem nos diz a nós que essas pessoas não têm histórias melhores que as nossas? Problemas maiores? E alegrias ainda maiores? Senhor Silva Ferreira não era muito inteligente. Não tinha um curso superior, fora o que a vida lhe deu. Com isto também não quero dizer que o Senhor Silva ferreira fosse um homem muito vivido ou viajado.
Senhor Silva ferreira era simplesmente o Senhor Silva Ferreira. Acordava todos os dias sozinho mas observado na sua casa às 7 da manhã. Embora fosse taxista e a sua profissão não exigisses horários o senhor Silva Ferreira sentia necessidade deles. Às 8:30h ia tomar o café e fumar o seu cigarro matinal. Bebia o café de um só trago e desfrutava o cigarro sempre com o mesmo prazer. Finalmente, já quase às nove da manha entrava no taxi e começava mais um dia de viagens.
O senhor Silva Ferreira gostava da sua profissão, era fascinado pelas pessoas, pelas suas histórias, pelos seus gestos, pelas suas expressões. Por vezes alguns ficavam desconfortáveis com o olhar penetrante do senhor Silva ferreira no retrovisor sempre a observa-los. Outros desesperavam com as eternas tentativas de conversa que o senhor Silva Ferreira investia em todas as viagens. Estes eram os tímidos. Mas não se enganem não era por não lhe darem conversa que o senhor Silva Ferreira gostava menos deles, muito pelo contrário, os tímidos eram aqueles que o cativavam mais, com o seu olhar assustado, corpo contorcido, e cheios dos mais diversos tiques nervosos. Mas não eram os únicos, os mais faladores também estavam cheios deles, embora mais difíceis de identificar.
Todo este interesse pelas pessoas tornava as viagens do Senhor Silva Ferreira muito animadas, mas essa não era a melhor parte. O que vocês ainda não sabem é que o senhor Silva Ferreira era dotado de um grande talento. Quando chegava a casa das suas viagens, o Senhor Silva Ferreira pegava nas tintas e nos pincéis e representava na perfeição os seus passageiros. Ele captava sentimentos, emoções e essências. Mas Senhor Silva Ferreira era uma génio modesto que passa na rua por entre tantos outros como ele sem deixar qualquer tipo de marca, ou diferença.
Por quantos génios modestos passaremos todos os dias na rua?