domingo, junho 15, 2008

CENA 1
Casa de MADELEINE e GUSTAVE - Int. / Noite

A casa é um pequeno loft. É perceptível que MDELEINE e GUSTAVE a habitam à pouco tempo. As paredes estão por pintar e a mobília é pouca ou inexistente. No meio da sala existe uma pequena mesa de madeira. MADELEINE e GUSTAVE estão sentados no chão em torno da mesma. A sala é escura e é percorrida por uma enorme nuvem de fumo. Sobre a mesa, entre várias garrafas de vinho e dois copos, estão dois dossiers. Nas respectivas capas cada dossier tem a fotografia de um homem e o seu nome completo.

MADELEINE
JEAN PIERRE de la Maison, magnata de economia. Desvia dinheiro desde o início do mandato deste governo. Chantageia o primeiro-ministro. Como é possível? E ninguém faz nada!

GUSTAVE
Ah! E este: VICTOR del Solai, está na política há cinco anos. É cadastrado na América por tráfico de droga. E como não podia deixar de ser, aproveita-se da sua posição para sustentar e comercializar os seus vícios. Sempre com roupas de grandes marcas e brutas jóias. E são estas as pessoas que estão no poder?

Ambos continuam a folhear os dossiers, vão comparando pormenores e planeando estratégias.

CENA 2
Ruas de Paris - Ext. / Dia

As ruas de Paris estão cheias de pessoas que ostentam as suas melhores roupas. Toda a gente procura alguém. A carência sente-se no ar. Os cafés enchem-se de senhoras todas aperaltadas em busca de um senhor que lhes faça companhia.
CENA 3
Restaurante “Eiffel” – Int. / Dia

Dia 7 de Junho, MADELEINE entra sozinha no restaurante “Eifel”. Veste um vestido branco cintado que roda em sua volta com a pequena brisa que passa. Na cabeça, com elegância, usa um grande chapéu branco de abas redondas. O restaurante situa-se na baixa da cidade e o cheiro das suas iguarias envolve todo o quarteirão. Todas as noites a fila surpreende quem passa. MADELEINE, entra no restaurante com um ar seguro e indiferente a tudo o que a rodeia. O restaurante é enorme, preenchido por mesas quadradas todas com lindas toalhas de linho branco. Sobre estas inúmeros pratos, talheres, copos, guardanapos, saleiros, condimentos; tudo do mais belo design. Os empregados circulam desvairadamente por toda a área circundante às mesas, criando bonitos jogos de equilíbrio com as grandes e brilhantes travessas. Sozinha e imponente dirige-se a uma mesa, reservada para dois, no centro da sala. Senta-se e espera pela sua companhia. MADELEINE, não fica surpreendida por ter chegado primeiro, mas mesmo assim fica aborrecida sem nunca perder o seu ar de senhora de alta classe. Enquanto espera vai fumando os seus cigarros Slim. Passado meia hora JEAN PIERRE chega. JEAN PIERRE é um influente homem de negócios, muito novo para o cargo que apresenta. É moreno e bonito, e sorri sedutoramente para MADELEINE.

MADELEINE – (Comentário)
E ao fim de meia hora lá ele chega com aquele ar de Don Juan. Acha que tem a noite garantida. Eu até lhe achei piada, mas logo me vieram as imagens daquele dossier à cabeça. Chantagem e corrupção. Dois coisas que não tolero!

JEAN PIERRE
(Beijando a mão de MADELEINE educadamente)
Boa tarde, como sempre muito bonita.

MADELEINE
(Muito bem impressionada)
Boa tarde, o JEAN PIERRE também não está nada mal.

JEAN PIERRE
Já aqui está há muito tempo?

MADELEINE
Ah! Não, acabei mesmo de chegar.

JEAN PIERRE olha para o cinzeiro e repara no cigarro marcado com a marca do batom de MADELEINE. Sorri, pois sabe que ela o espera desde a hora combinada e que lhe acabara de mentir.

JEAN PIERRE – (Monólogo Interior)
Ela não me resiste.

Os dois, sobe um clima romântico almoçam, riem e conversam. O tempo passa loucamente e nem JEAN PIERRE nem MADELEINE o notam.

CENA 2 A)
Ruas de Paris – Ext. / Noite
A fila à porta do restaurante vai se formando. MADELEINE e JEAN PIERRE abandonam o restaurante abraçados e sorridentes. Como previamente combinado, JEAN PIERRE acompanha MADELEINE até aos táxis, mas, a meio do caminho trava-a e faz-lhe uma proposta.
JEAN PIERRE
(Sussurrando ao ouvido de MADELEINE)
A MADELEINE vai me desculpar o descaramento mas não pode ir embora sem que o seu cheiro se misture com o meu; de modo a que sempre que eu sinta saudades suas, sinta o seu cheiro em mim e a sinta, assim, um pouco mais próxima.

MADELEINE sorri, a noite não poderia estar a correr melhor.

CENA 4
Hotel – Int. / Noite

No quarto de um hotel muito frequentado pela alta sociedade para os seus pequenos affères, MADELEINE e JEAN PIERRE envolvem-se. O quarto não é muito grande mas espaçoso. Está luxuosamente decorado. A cama é enorme, o colchão mole, as almofadas abafam toda a cabeceira, os lençóis são de linho branco e o edredão vermelho sangue de boi. A carpete é bege e felpuda, percorre todo o quarto. A mobília é de madeira de cerejeira combinando perfeitamente com as majestosas cortinas da mesma cor que o edredão. Mas, nem tudo corre bem, MADELEINE não se consegue concentrar de tão extasiada que está com o trabalho que tem a fazer que não demonstra qualquer interesse por JEAN PIERRE. Este, frustrado com esta nova situação enfurece-se. Nunca uma mulher o humilhara tanto e não iria deixar as coisas continuar assim. Se MADELEINE não o desejava não iria acontecer nada. Levanta-se abruptamente, veste-se e ordena MADELEINE a fazer o mesmo. MADELEINE obedece com um sorriso nos lábios que provoca ainda mais JEAN PIERRE. Este, possesso com a situação vai até à casa de banho. Enquanto isso, MADELEINE vai à sua mala Lousi Vuitton e tira um pequeno revolver prateado. Ao sair da casa de banho JEAN PIERRE é surpreendido por MADELEINE. Ela mata-o friamente.

CENA 5
Elevador do Hotel – Int. / Dia

Após acabar o serviço MADELEINE, abandona o quarto e entra no elevador. É um cubículo pequeno, forrado a madeira, com porta de ferro dourado em cruz. O empregado do Hotel abre-lhe as portas.

MADELEINE
Para o rés-do-chão, por favor.

O empregado do Hotel volta a fechar as portas e pressiona o botão do rés-do-chão. MADELEINE retoca o seu batom e calmamente volta a calçar suas luvas brancas. MADELEINE, está agora apática e pensativa, perdera a sua postura imponente. Pensa na monotonia da sua vida, que perdera o sentido e toda a adrenalina que outrora tivera.

CENA 6
Casino Paris – Int. / Dia

A sala é grande e redonda. Suportada por grandes pilares com pequenos adornamentos. No centro inúmeras mesas preenchem o espaço. As mesas são rectangulares e compridas, as cadeiras estão forradas com tecidos brancos com pequenos detalhes a dourado. As toalhas pousadas sobre as mesas são verdes com renda branca em volta. As paredes são escuras o que torna o ambiente extremamente pesado. O fumo enche a sala e são tantas as pessoas que se encontram na sala de refeições do casino que o burburinho é ensurdecedor. Na mesa mais ao canto da sala, GUSTAVE, um homem carrancudo de meia idade, observa o ambiente que o rodeia. Achas todas aquelas pessoas patéticas. Cada um a tentar rir mais alto que o outro para de destacar. Cada um a usar roupas mais exuberantes que o outro. Para GUSTAVE tudo aquilo é absurdo. O ódio e o desprezo começam a invadi-lo. Calmamente acaba o seu cigarro, inspira fundo e o jogo começa. GUSTAVE salta agora de grupo em grupo. Encarna a postura de quem o rodeia rindo do mesmo modo, fumando do mesmo modo, falando do mesmo modo; tentando enquadrar-se da melhor maneira no meio. Devagar vai chegando até ao seu alvo sem levantar suspeitas. Discretamente aproxima-se de ANTOINE. VICTOR, é um homem executivo respeitado no meio pelo estatuto que alcançou. Ao aperceber-se da presença de GUSTAVE aproxima-se dele.

GUSTAVE – (Comentário)
Ele já me tinha visto, e sabia o que eu estava ali a fazer. Não mostrava qualquer receio. Sabia que eu descobrira o seu segredo e que agora o seu cargo estava em risco.

VICTOR
Sabia que vinhas cá hoje acabar o serviço que à duas semanas deixas-te por acabar.

GUSTAVE
Então se sabes despacha-te. Vamos para uma sala mais reservada.

VICTOR
(Sorridente)
Vamos.

Discretamente, VICTOR deixa passar GUSTAVE à frente e de pistola em punho prepara-se para o surpreender. Ao chegarem à sala, GUSTAVE vira-se e espanta-se ao ver VICTOR apontando-lhe uma arma.

VICTOR
E agora? Vais fugir e deixar outra vez coisas por fazer ou vais morrer com a pouca dignidade que ainda te resta?

Os dois homens envolvem-se numa luta. Só quando a arma cai ao é que ambos param e tentam apressadamente agarra-la. Mas, GUSTAVE é mais rápido e sem qualquer hesitação mata VICTOR.

CENA 2 B)
Ruas de Paris – Ext. / Dia

Paris, bem cedo. As pessoas agora sisudas, caminham apressadamente para os seus destinos.
O jornaleiro berra a manchete do Jornal de dia 13 de Junho: “Police cherchent assassins!”.

CENA 2 C)
Ruas de Paris – Ext. / Noite

No mesmo dia, mas no cair da noite. GUSTAVE fuma mais um cigarro numa rua sombria. Do meio da escuridão uma senhora aproxima-se.

MADELEINE
(Extremamente triste, mas totalmente à vontade, sem se esconder em personagens fictícias)
Viste o Jornal? Antes ficava toda empolgada com os nossos golpes e ainda mais com a fuga. Mas agora não GUSTAVE. Estou farta desta vida. Não podemos continuar com isto. Deixamos chegar a um ponto em que nada faz qualquer sentido. Perdemos a dignidade. Perdemos a moral e todos os nossos valores. Por mim chega. O que nos aconteceu? Com tantos ideais pela justiça como podemos seguir por um caminho ainda mais sujo em busca de um fim melhor?
GUSTAVE
Entra no carro.
O carro arranca.
CENA 7
Carro de GUSTAVE – Int. / Noite

MADELEINE chora e GUSTAVE, carinhosamente, acaricia-a pondo o seu braço sobre o ombro dela.
GUSTAVE
Vamos começar tudo do zero em Áustria. Viena de Áustria.

MADELEINE olha para GUATAVE e faz e sorriso triste. Limpa os olhos húmidos.
MADELEINE
Como é possível termos feito tudo o que fizemos, GUSTAVE? Morto tanta gente, achando que éramos donos do mundo? Achando que toda a gente se devia reger pelos nosso valores? Como é possível termos sido tão parvos e tão fechados no nosso próprio umbigo durante tanto tempo?

GUSTAVE
Eu sei…