quarta-feira, outubro 10, 2007

Décima sétima história

Vou falar-vos de um bairro, no coração de Lisboa que muitos desconhecem. É um bairro pacato, como tantos outros mas que pela calada, como já Gil Vicente fazia, criticava a sociedade. Ora então este belo bairro, que emoldura a Alameda, chama-se Bairro dos Actores. Muitos podem pensar que seu nome vem das ruas que numa homenagem a actores famoso têm os seus nomes. Mas desenganem-se. Eu, Sr. João Cardoso, conheço a magia deste bairro. Ele critica os actores que aqui vivem. Não os actores profissionais, os actores natos. Pessoas que passam por nós no dia-a-dia e nem ligamos, mas que no fundo são grandes detentoras de poder de persuasão. Actores que representam amizades como ninguém. Actores que representam grandes amores por grandes fortunas. Que representam grande inteligência por grandes cargos em grandes empresas. Enfim, actores como os que há no mundo inteiro.
Kika, acordara naquele dia igual aos outros, no seu apartamento T2 na rua actor Isidoro. Tinha prometido a si mesmo que ia mudar de vida. E decidiu que ia ser naquele dia. Pegou no dinheiro que havera lucrado na ultima noite e saiu. Entrou no metro da alameda e saiu nos restauradores. No fim da tarde já tinha duas toelletes chiques. A primeira parte do seu plano estava acabada, só faltava infiltrar-se "naquela sociedade". Uma semana depois estava noiva do filho do embaixador e em dois anos rica. Mas embora trata-se a vida e o dinheiro por tu; ao amor nem lhe falava. Tinha medo do amor.
Cátia dos Santos dos santos, era também uma actriz nata, embora muito nova já dominava bem este mundo. Cátia em casa e Carolina na escola, eram duas pessoas completamente diferentes. Cátia acordava todos os dias bem cedo, fazia o primeiro turno no mercado, ajudava a mãe quando podia. Depois, ia a correr para casa tomava banho e tirava de debaixo da cama a sua caixinha dos tesouros. Lá dentro tinha roupas que roubava dos estendais baixos ao vir para casa. Já vestida era Carolina Telles, uma menina de boas famílias que estudava pelo primeiro ano em Lisboa. Tudo isto era mentira, Cátia já andava naquela escola há quatro anos, mas sem aquelas roupas parecia que era só mais uma sombra que passava.

quinta-feira, outubro 04, 2007

(visto que o vencedor é o concorrente A, vamos la trabalhar)

décima sexta história

No cemitério, Gaspar corria como o vento. Colina a cima, colina a baixo. Não se ouvia barulho algum, apenas o barulho das suas passadas e de vez em quando o ruído do seu pé pisando as folhas secas que o Outono roubava as árvores.
A Primavera já ia longe e com ela a sua felicidade. Daí em diante só tristeza e saudade. Avó Laura partira em Abril, Gaspar não percebera bem porquê. Esta incompreensão touxera-lhe primeiro a impressão de que nada daquilo era real. Morte. Fim. Saudade. Soavam-lhe como palavras soltas em luto. Depois, o tomar de consciência, o vazio. A tamanha tristeza que se formara mais tarde em fúria e revolta. Nisto chega e passa o Verão, mais calmo, Gaspar, estagna no cais de Setembro, onde navega num turbilhão de emoções contrastantes. Nos momentos de enorme tristeza sentava-se junto à janela a olhar as marés vivas esperando pela arrasadora maré alta.
Até que um dia, com o cair da primeira folha, Gaspar limpa as lágrimas e uma nova esperança percorre-lhe o corpo deixando um sorriso. Sua mãe, Esperanza, farta de ver o seu filho em pranto diz-lhe que Laura, voava sobre o Alto de São João no vento de Outono.
No cemitério, Gaspar corria como o vento. Colina a cima, colina a baixo. Não se ouvia barulho algum, apenas o barulho das suas passadas e de vez em quando o ruído do seu pé pisando as folhas secas que o Outono roubava as árvores.

terça-feira, outubro 02, 2007

"Se a minha casa fosse feita de chocolate eu seria uma sem-abrigo."
anónima