quinta-feira, janeiro 29, 2009

Agridoce.

Era uma vez uma menina de duas caras. Tudo o que vivia tinha um sabor agridoce na sua vida. Eram memórias perdidas que assombravam os momentos bons do presente e sempre que sorria, vertia uma lágrima pela dor que nunca houvera chorado.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

trigésima primeira história . episódio um

Era uma vez uma família portuguesa. Composta por: um pai - Adolfo, tipicamente sócio do Benfica que profissionalmente faz chaves. Uma mãe, Emília, carinhosa como qualquer mãe, divide o seu carinho não só pelos seus filhos, como pelos dos outros, não fosse ela uma boa mulher-a-dias. Um filho, César, obeso desde que nasceu, pouco dotado de inteligência (permanece no primeiro ano da faculdade à demasiados anos). E por mim, um filha, Amélia - uma adolescente normal que tem como único objectivo na vida conduzir o eléctrico.

Embora tudo aponte para um jantar normal, este jantar tornar-se-á totalmente peculiar. Amélia está sentada à mesa com toda a família, ao centro está a panela a fumegar. Emília, a mãe, ainda de avental começa a servir toda a família. Primeiro o filho mais velho – César que está sentado numa cadeira mais resistente do que o resto da família, os braços dessa cadeira foram serrados para que César coubesse nela. Emília enche o prato do filho brutalmente e, de seguida, serve o resto da família com quantidades consideravelmente menores.
Amélia espalha a pequena porção de arroz com atum pelo prato. Embora o ambiente do jantar seja festivo, Amélia apresenta uma expressão triste apoiando a cabeça sobre a mão esquerda.
No fim do jantar toda a família se levanta e dirige-se, apressadamente, cada um a seu quarto. Regressando todos com um porquinho mealheiro debaixo do braço. Os quatro porquinhos mealheiros estão pousados em cima da mesa, assim como a loiça suja do jantar, ainda por levantar. O pai aproxima-se com o martelo em punho. O primeiro porco a partir é o de Amélia. STRAZ! Todas as moedas que Amélia tinha amealhado até ali espalham-se pela mesa, ao todo Amélia juntou quatro moedas douradas de mil. Depois foi o porco da mãe, este mealheiro compilou três moedas douradas e uma prateada. O pai, todo confiante, parte o seu mealheiro de onde caem apenas duas moedas: uma dourada e uma prateada. Logo a seguir, César, brutamente, rouba o martelo ao pai e parte o seu mealheiro em êxtase. A sua confiança desvanecesse logo de seguida: do mealheiro apenas saem três papéis de chocolates amachucados. César desata a chorar provocando um ruído ensurdecedor! Entre a respiração atrapalhada, os soluços e as lágrimas, César enfurecido pergunta "QUEM COMEU OS MEUS CHOCOLATES?". A mãe, apressadamente dirige-se à cozinha, abre o armário, tira duas pilhas de pratos, enfia-se dentro do armário e lá bem ao fundo desprende um fundo falso de onde tira um, de muitos chocolates, para dar ao filho de maneira a acalmá-lo.
Entretanto, Amélia escapa-se da sala de jantar e vai-se sentar, com uma lanterna, dentro do armário do seu quarto a admirar o seu poster do eléctrico onde acaba por adormecer.
No dia seguinte, toda a família segue viagem para a clínica. O pai conduz a 4L branca, César vai no lugar do morto com o banco e o respectivo encosto, chegado ao máximo para trás. Emília e Amélia vão no banco de trás, dividindo o banco esquerdo atrás de Adolfo pelas duas.
Ao chegarem à clínica, duas enfermeiras extremamente magras e esbeltas esperam o carro com uma cadeira de rodas extremamente grande. César sai do carro e senta-se na cadeira. As enfermeiras empurram o pesado corpo até à porta da clínica onde pai, mãe e irmã acenam como despedida enquanto César entra.
Ao chegarem a casa, está uma carta sobre o tapete de limpar os pés. Adolfo observa a carta com curiosidade. Dentro do envelope está uma fotografia de previsão do estado do seu filho após a operação - a fotografia mostra a cara de César, à tantos anos escondida atrás de gordura e apresenta um corpo tonificado. César está elegantíssimo! Além da fotografia, no envelope vem também uma carta em fole, bastante comprida, essa carta apresenta o orçamento justificado e na última página estão, em letras garrafais, “COLOCAÇÃO DE UMA BANDA GÁSTRICA – 9000$”. Adolfo, volta a guardar o orçamento no envelope e mostra a fotografia à mulher entusiasmado.

domingo, janeiro 11, 2009

centésimo post, quem diria.

Tanto para dizer e tão pouco escrito. Acho que ao fim de 100 a minha imaginação acabou. Sinto que não há metáforas nem histórias que retratem o que quero dizer. Assim, prefiro não dizer nada e simplesmente abrir uma celebração. Uma celebração à mudança, à aprendizagem e espero que, ao crescimento e ao amadurecimento.

Um brinde. Não, cem brindes.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

página 250

"4) A poesia de O'Neill faz o elogio do cinema, no século em que a importância dessa arte se torna central.
A imagem - imago - é a imobilidade. Mas o som é o movimento, a vibração, a propagação das ondas. A poesia é como o cinema, ou melhor, o cinema é uma forma de poesia, no sentido em que as imagens em sucessão de instantâneos fotográficos se transmutam em movimento: essa operação de alquimia técnica - a produção de uma ilusão perfeita de movimento - atinge a perfeição como o facto de se passarem a ouvir as vozes. Mas os sons, de certo modo, sempre lá estiveram, como na primeira imagem a do comboio a entrar na gare de La Ciotat, está o ruído das rodas, o apito da sirene, o ranger dos travões, o silvo do vapor.
A poesia (pelo menos a poesia segundo O'Neill) é também a criação de um efeito pelo choque de imagens, e também, tal como o cinema, só se realiza completamente quando é dita em voz alta."
Fernando Cabral Martins

Alexandre O'Neill,
Já não está cá quem falou,
Assírio & Alvim