segunda-feira, janeiro 05, 2009

página 250

"4) A poesia de O'Neill faz o elogio do cinema, no século em que a importância dessa arte se torna central.
A imagem - imago - é a imobilidade. Mas o som é o movimento, a vibração, a propagação das ondas. A poesia é como o cinema, ou melhor, o cinema é uma forma de poesia, no sentido em que as imagens em sucessão de instantâneos fotográficos se transmutam em movimento: essa operação de alquimia técnica - a produção de uma ilusão perfeita de movimento - atinge a perfeição como o facto de se passarem a ouvir as vozes. Mas os sons, de certo modo, sempre lá estiveram, como na primeira imagem a do comboio a entrar na gare de La Ciotat, está o ruído das rodas, o apito da sirene, o ranger dos travões, o silvo do vapor.
A poesia (pelo menos a poesia segundo O'Neill) é também a criação de um efeito pelo choque de imagens, e também, tal como o cinema, só se realiza completamente quando é dita em voz alta."
Fernando Cabral Martins

Alexandre O'Neill,
Já não está cá quem falou,
Assírio & Alvim

1 comentário:

Unknown disse...

se pelo que percebi, o cinema só é cinema quando há so, segundo o texto certo?
tenho de discordar, quantas vezes vemos o silêncio calar mentes, actos, pensamentos e palavras?! Quantas vezes vemos o silêncio a estrangular o espectador?!
Para mim não existe a "ausência de som completa", o silêncio também tem uma força enorme, e associado a uma boa imagem e a uma continuidade na história consegue ter um impacto perfeito no espectador.
mas isto sou eu...