Vigésima quarta história
Quando a vida nos surpreende e nos volta de pernas para o ar, o sangue aloja-se na nossa cabeça provocando um fenómeno estranho de desenvolto raciocínio. Já Einstein o sabia e utilizava esta técnica, no seu sentido literal, diversas vezes. Mas nesta história que passo a contar, a história é outra.
Não fora intencionalmente que Isabel quisera que o seu raciocínio se desenvolve-se de tal maneira que não conseguisse deixar de pensar nele, mas a vida trocou-lhe as voltas e pô-la de pernas para o ar. Ora portanto, numa posição totalmente inversa todo o sangue é bombeado pelo coração dirige-se à cabeça com tudo o que o coração tem de melhor e de pior. Mas a diferença entre Isabel e Einstein é que este último não estava apaixonado de modo que toda a sua paixão se baseava nas ciências e deste modo tirava o melhor partido delas. Mas, como todos sabemos, o que o coração melhor sabe fazer é amar, e quando se ama alguém, como era o caso de Isabel, todo o sangue que o coração bombeia é incentivado por todos aqueles pequenos gestos, simpáticas palavras, saudáveis carinhos que alimentam a paixão. Assim, todo o sangue que se dirigia para a cabeça de Isabel estava contaminado pela magia do amor. Assim, Isabel passava os dias hipnotizada no seu amor.
Até aqui, esta história até ia bem encaminhada, com o encanto do destino, o charme da sorte e uns pozinhos de “pre lim pim pim” seria final feliz de certeza! Contudo, não era só o mundo de Isabel que estava de pernas para o ar. Infelizmente o de seu amado também. Não havia outra explicação para tal jovem e solteiro moço não reparar em todos os sintomas de amor que Isabel demonstrava. A sua indiferença era gelada, o seu desprezo ia deixando Isabel cada vez mais moribunda e perdida nos seus próprios pensamentos. Para quem nunca provou o sabor amargo e doce do amor, pode pensar que Isabel perdida nos seus pensamentos fosse sobrevivendo lentamente, progressivamente esquecendo tal rapaz que a deixara. Mas, os entendidos na matéria, sabem que é o amor, que nos tira o tapete de baixo dos pés e faz o mundo girar 90 graus deixando-nos de pernas para o ar. Era assim que Isabel estava, embrenhada no labirinto do amor, o sangue que o seu coração enamorado bombeava percorria-lhe o corpo todo, alojando-se lentamente na sua cabeça e contaminando-lhe os seus pensamentos com o bichinho do amor. Isabel passava os dias a pensar no seu amor, por vezes distraia-se com outras coisas, mas era um ciclo vicioso. De dentro impossível libertar-se, de fora incompreensível. E Isabel passava os dias a pensar no seu amor.