domingo, julho 13, 2008

Vigésima primeira história
O sol irradia os últimos raios de sol. O horizonte é preenchido por uma mescla de tons quentes. O tempo está quente e seco. O fim da tarde beija Lisboa, oferecendo-lhe um tom alaranjado. O Tejo e a ponte 25 de Abril enquadram todo o bonito cenário.
Madalena iluminada pelo lado direito com aquela luz alaranjada parece ainda mais bonita. O castanho profundo dos seus cabelos, ligeiramente ondulados, ganha agora uns pequenos reflexos ruivos; seus olhos ganham um tom cor de mel; e o seu sorriso… esse nada o muda, sempre radiante.
Mateus, sempre com a sua expressão calma, transborda felicidade pelos seus olhos muito escuros e rasgados. Involuntariamente, perde-se na beleza de Madalena e não escuta uma só palavra do que ela diz. Apesar de Mateus admirar tudo o que Madalena diz, aquele momento fê-lo perder toda a atenção que prestava as palavras sábias e graciosas de Madalena. A luz, os gestos, o olhar; tudo. Madalena está perfeita.
O tempo passa, o sol agora invisível, dá lugar a uma pequena brisa que apresenta a noite. Mateus e Madalena continuam onde estavam o tempo parece não existir para eles. A esplanada onde se encontram já não é a mesma, a luz alaranjada que o fim da tarde trazia e fazia reflectir toda a loiça e mobília, fora agora substituída pelo escuro progressivo que traz a noite. As velas iluminam agora o espaço com a sua luz turva e agitada.
O pensamento de Madalena viaja a alta-velocidade, tem plena consciência que há muito tempo que aquela relação deixara de ser uma amizade normal. Mas por outro lado, não tem a certeza até que ponto está disposta a arriscar entrar numa nova relação amorosa, tendo em consideração o seu historial atribulado. Mas quando olha para Mateus, sempre com aquela expressão calma, sente algo que há muito tempo não sentia, segurança. De repente dá por si a pôr em hipótese declarar-se. Logo a seguir, sente-se ridícula e perde a coragem. Enche-se de esperança que ao fim da noite os seus desejos sejam realizados e ele tome conhecimento de todo o carinho que ela sente por si. Entre suspiros e conversa o tempo vai passando e Madalena continua a sonhar.
Mateus agora concentrado na conversa, tenta tirar o maior partido de tudo o que Madalena diz, parece-lhe sempre tão sabia, tão certa. Tenta aprender e crescer ao máximo com tudo o que ela sabe. Por uma vez ou outra, deixa-se embalar na beleza dos seus gestos, da delicadeza do seu corpo; mas regressa sempre à conversa com medo de desrespeitar tal milagre da Natureza. Mateus admira-a, e sente-se na função de proteger tão frágil e virtuosa menina dos males do mundo. O carinho que tem por ela ultrapassa tudo o que já sentira por alguém, mas talvez por isso mesmo, o medo de não ser correspondido e se ter de afastar faz com que nunca se chegue a aproximar. E permanece sempre ali, escutando-a, amando-a, perdido nos seus gestos, embebido na sua graciosidade e curioso pela sua sabedoria.
A noite cai. Os talheres são pousados. A loiça é levantada. Mateus e Madalena abandonam a esplanada e seguem seu caminho amando-se secretamente um ao outro.

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