terça-feira, julho 08, 2008

Vigésima história
Ela envolvida em melancolia vivia. Os dias levavam-na na sua maré. Vivia cada dia esperando pela coragem ou pelo milagre que realiza-se os seus sonhos; mas faltava sempre qualquer coisa que a fizesse lutar. No estranho conforto do medo estagnava, esperava. E assim vivia lentamente.
Por vezes tentava arranjar teorias que refutassem todo aquele sentimento, agarrava-se aos barcos que navegavam para alto mar tentando deixar toda a memória, toda a mágoa: todo o amor para trás; mas a maré enamorada pela areia das praias, dançando num vai e vem deixava-a sempre, de novo, na costa de onde partira.
E ela vivia nesta angústia, num destino fatal de se prender e envolver cada vez mais.
Outras vezes decidia que daquela vez, cheia de certezas, encontrara a paz nos braços de quem fugira outrora em tremenda angústia. Mas tal coragem era efémera e nunca se tornara em acontecimento.
E assim, a menina voltava sempre para a praia e observava a única coisa que alguma vez a compreendeu e sempre compreenderá: o mar. O mar, percorrido por tantos barcos, casa de tantos seres; decidira apaixonar-se pela areia e por mais que se afaste volta sempre furioso para ela.

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