quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Festival de Estórias
I - Heróis que passam despercebidos
O Sr. Chaves é revisor no combóio 522 que parte às 10 para as sete, de Lisboa para o Algarve. Já o faz há 20 anos, mas naquele fim de tarde a história iria ser outra.
Já passava da hora de jantar, as hospedeiras da 1ª classe já tinham recolhido todos os tabuleiros, quando o senhor do lugar 47 da carruagem 20 cai no chão inanimado. O pânico instala-se na carruagem, a mulher apressa-se a chamar o revisor que acciona o alarme de chamada de médicos ou enfermeiros que viajassem no combóio. Ninguém apareceu. Além dos curiosos, claro. Mas médicos nada. As pessoas não sabiam o que fazer, as pergunta "o que se passou?" propagava-se por todo o combóio. O Sr. Chaves, já tendo frequentado um curso de primeiros socorros, sabe que não há mais nada a fazer se não entrar em acção. Verifica novamente o pulso ao senhor, em vão e inicia a respiração boca a boca e a massagem cardíaca. Nem queria acreditar quando o homem volta a si, estava em êxtase assim como toda a carruagem. Era óbvio que aquele homem precisava urgentemente de ir ao hospital ainda assim, mas o pior já tinha passado.
Passadas umas horas, o combóio chega finalmente a Faro, só que com um atraso de 30 minutos, que faz com que qualquer hipótese de apanhar um combóio de ligação dos regionais que percorrem o Algarve, se torne impossível. A multidão dos curiosos e especulativos transforma-se agora numa multidão revoltada que atropela o Sr. Chaves com reclamações e exigência de transportes de recurso. E assim, o Sr. Chaves envia o senhor ainda convalescente de táxi para o hospital mais próximo e as restantes pessoas são distribuídas entre táxis para os seus destinos e hóteis.

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