segunda-feira, novembro 17, 2008

Vigésima nona história

Esmeralda era uma senhora já com os seus sessenta anos. Tinha longos e fracos cabelos brancos, todos apanhados no cimo da cabeça. A sua face era redonda e macia embora enrugada. Vivia numa casa pequena, que ainda mais pequena se tornava pelo excesso de decoração. Esmeralda passava grande parte do seu tempo na cozinha, era lá que se sentia mais confortável entre os tachos e as panelas. De ascendência Espanhola, herdara o gosto pela gastronomia dos seus antepassados.

Esmeralda acorda, chega à cozinha, nas mãos trás um tabuleiro com um copo vazio e um cheio. Lava os copos, arruma o tabuleiro e faz o pequeno - almoço, para ela e para o marido. Senta-se e espera. Mal o relógio se acerta nas 10h começa a comer. No fim arruma tudo. Ao meio dia já está de volta aos cozinhados, põe a mesa para dois, serve ambos os pratos, senta-se e espera. À 13h30 começa a comer. No fim arruma tudo. Quando o relógio marca a as 16h, Esmeralda volta à cozinha, prepara sempre um chá e bolachas de manteiga, põe no tabuleiro com duas chávenas e dois pratinhos e senta-se na sala, à espera. Às 17h, Esmeralda arruma tudo de novo nos seus lugares e abandona a cozinha com regresso marcado às 19h. Às sete da tarde, Esmeralda faz uma sopa e o jantar. Põe a mesa para dois, serve ambos os pratos e espera. Às 20h30 começa a comer. No fim arruma tudo e limpa a cozinha. A última vez que Esmeralda vem à cozinha é por volta das 23h, já vem de roupão e leva um tabuleiro com dois copos com leite branco. No quarto, Esmeralda pousa o tabuleiro na cómoda, senta-se na cama e espera. À 00h bebe o seu copo de leite, de seguida pousa-o ao lado do outro copo, que permanece cheio, no tabuleiro em cima da cómoda. Deita-se e fica à espera. O seu olhar permanece imóvel na porta como que se esperasse por alguém. Só uma hora depois é que apaga a luz. Esmeralda espera até adormecer.

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