sábado, novembro 14, 2009

Quando as histórias ainda não são histórias

Ele roubou um autocarro da Carris.

sexta-feira, julho 24, 2009

Quando as histórias não são histórias

Como todas as memórias, esta é turva e pouco focada, numa paleta de baixo contraste em escala do branco ao preto passando por uma infinidade de cinzentos.Eram assim as fotografias das férias, tiradas pacientemente pelo pai Mateus. São assim também as minhas memórias.
O mar era agitado e a espuma branca e brilhante. O areal comprido, embora não profundo era batido e abatidos pelas ondas que criavam um foço de protecção.Lembro-me que tinha medo, muito medo. A Mariana não. A mãe ficava sempre na toalha. A Mariana ia sempre para a água, mas não ia sozinha, não podia, era pequena. Ia com o pai que era forte e a levantava sempre que vinha uma onda para que não engolisse pirolitos; depois, lá ao fundo, brincavam.
A mãe ficava na toalha, a Inês esperava à borda da água, olhava e contava as ondas que levemente a puxavam para a água. Ela resistia. Elas insistiam. Ela resistia. Elas insistiam. Ela fugia, tinha medo.
Sorridentes, o pai e a Mariana voltavam da água. Era a minha vez, o pai chamava-me. Dava-me a mão e quando as ondas eram maiores pegava-me ao colo, e assim me levava para longe daquelas ondas com aquelas garras brancas e brilhantes super afiadas.Depois da rebentação, aos poucos, o medo passava, não tinha pé, não tinha medo. Ali as ondas não eram más, eram boas e divertidas; não assustavam, apenas iam e vinhas e nós íamos e vínhamos com elas, abraçados.

Agora não sei se o medo que tinha se devia ao mar e à sua imponência ou a ele e ao seu estranho e resumido carinho. Hoje sobram apenas as saudades desse protector abraço e da segurança que me trazia.

sábado, maio 23, 2009

Abri um livro e escolhi uma palavra ao acaso. A palavra que calhou foi hora. Não sei bem como o fazer, mas decidi que usaria essa palavra para escrever uma história. Aqui vai a minha tentativa.

São 19:28, o sujeito, que já nem a nome tem direito, percorre cabisbaixo um corredor frio e sombrio. Anda devagar e arrasta os pés como se a planta dos seus pés descalços beijasse, pela última vez, o chão gelado. Os seus passos são pequenos travados pela pequena corrente de ferro que os une. As suas pernas magras tentam a todo o custo não tremer, os seus joelhos são bambos e o medo corre-lhe nas veias. O medo da morte.

A seu lado vão 3 seguranças fardados, perderam a identidade e a alma, venderam-na ao diabo. Na sua face paira grande indiferença, os seus olhos são cinzentos como as pedras e seus peitos vazios. São máquinas que apenas executam tarefas.
Prosseguem os três, passo a passo. O silêncio é apenas cortado pelo roçar das correntes.

Noutra sala estão 11 indivíduos. O presidente da prisão. O juiz do tribunal. O carniceiro. 3 Jornalistas. O padre. A todos estes também lhes foi corroída a identidade, apresentam-se apenas como meros sujeitos que executam funções, sem emoções. Mas ainda só vimos 6 pessoas, as outras quadro têm o coração quente mas apertado, têm o dom de sentir e o fardo de sofrer. Eles são Maria e José, pais da vítima. E Maria e José, pais do réu.

Maria e José, pais da vítima estão na primeira fila. Embora lhes doa o coração, sentem um grande alívio e principalmente sentem o filho vingado. Sentem alívio. Maria, mais conturbada que José, aperta as mãos suadas uma contra a outra, segurando um terço em tom de agradecimento. José, com olheiras visivelmente marcadas, está sério. A sua cara não mostra a divisão ética em que o seu coração se encontra. Parece calmo e, finalmente, tranquilo.

Maria e José, pais do réu estão na última fila. Contra a vontade do filho vieram à sua execução, num misto de tristeza, desilusão, raiva e tantos outros sentimentos que nem eles sabem definir, olham fixamente para a forca imponente que ocupa o centro da sala. Maria choraminga numa reza murmurada. José, tão sério como o seu homónimo, tem no olhar o vazio de ver um filho morrer e no coração a dor que mata também os pais.

A porta, extremamente pesada abre-se, o réu, acompanhado pelos três guardas, entra. Todos os seis indivíduos sem identidade fitam o culpado sem medo e até com um olhar pervertido. José, seu pai, olha o filho já com saudade. Maria, sua mãe, aperta o lenço com o qual enxuga as lágrimas com força e olha-o também. Embora a tristeza de ver o filho preso lhe doa no seu coração frágil de mãe, acompanha com o olhar o seu filho nesta dura hora. Ambos os pais da vítima, olham o réu com a frieza e a dor da lembrança.

O sujeito acorrentado, apenas levanta a cabeça para olhar a imponente forca. Seus joelhos fraqueijam e tremem ainda mais. O seu corpo torna-se ainda mais pesado e vai travando um luta inglória contra o seu próprio destino.


O juiz lê a sentença. O presidente da prisão diz para acta a hora da execução. Os jornalistas gravam. O carniceiro espera pelo sinal. O padre reza. A mão chora. O pai tenta não chorar. Os pais da vítima fitam o réu. O presidente da prisão faz sinal ao carniceiro. O carniceiro tira puxa a alavanca.

O sujeito chorava. O sujeito não quis dizer nada. 20:00 Hora da execução. 20:03 Hora da morte.

domingo, maio 10, 2009

Hoje quero escrever.
Já reparaste que, vistas da ponte, as casinhas parecem pequenas maquetas? E que ao meio dia os candeeiros da auto-estrada se tornam pirilampos agarrados aos chão, porque as suas cabecinhas reflectem brilhantemente os ofuscantes raios de sol? Que existem montes pintados a carvão. Que fortalezas de prédios espreitam todos os dias escarpas de pequenas e amontoadas casas do outro lado da encosta? Já reparaste nas danças dos carris dos comboios? E nos palácios tropicais escondidos por Lisboa? Já reparaste que o Sol gira à tua volta, à minha volta e à nossa volta? Já reparaste; a concertina, o violino, o xilofone e o piano ainda não pararam de tocar.

terça-feira, abril 21, 2009

Embora não queira estar sempre a citar outros, a esta não resisto. Um dia tento, um dia tento voltar a escrever.

""Ah, estou a ver!", retorquiu a duquesa, sentindo-se bastante aliviada; "suponho que ele lê a sorte na mão?"
"E revela igualmente os infortúnios!", responde Lady Windermere, "qualquer um! No próximo ano, por exemplo, vou estar exposta a grandes perigos, tanto em terra como no mar, pelo que irei viver num balão e todas as noites içarei o meu jantar no cesto. Tudo se encontra inscrito no meu dedo mindinho, ou na palma da minha mão, já não me recordo bem em qual de ambos.""

O Crime de Lorde Arthur Savile, OSCAR WILDE

terça-feira, março 24, 2009

Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver.

quarta-feira, março 11, 2009

tempos de mudançatempos de bonança. onde stão os tempos de bonança? só vejo e sinto e sinto a mudança, a pressão da mudança, a escolha. Escolha e decisões, tudo me atropela e baralha sinto-me numa encrizilhada todo trocada. Sempre soube quem fui, que sou e quem seria, agora já nem sei o que fui, muito menos o que sou e o que serei. deixarei-me voar com a força do destino porque passei toda a minha vida a fazer planos e o tapete sempre em fugiu debaixo dos pés. Para quê planear se não sei o que quero? para quê planear se nao sei o que vou querer? quero tempo para parar, exprimentar e navegar com leme assente. o meu barco boia e desliza das ondas da vida sem aternaiva. Quero parar, mas o mar está sempre a borbulhar, as ondas põem-me zonza. Fecho os olhos, já não quero saber vou imaginar um mundo melhor, ou simplesmente ver negro, não ver nada, não pensar nao me chatear. agora nao vejo, não penso, mas ainda sinto ainda me sinto zonza aida mais zonza. Abro os olhos, já penso. penso que nao quero pensar. Mas quero, porque de que vale a vida se não for vida seja pelo raciocinio ou pela emoção, ou na melhor das hipoteses pelos dois. As coisas têm de ser sofridas para terem valor. Isto é o que eu acho, não o que eu quero. porque este sofrimento não doi, não cansa mas satura, porque sabemos que estamos na arena grega, em que temos de passar pelos leões e pelo fogo mas sabemos que no fim vem o gladiador e acaba. Vencemos ou morremos, mas não temos medo porque acaba. Aqui não vejo o vim não sei quanto tempo vou pensar que não quero pensar, não sei por quanto tempo vou sentir o meu cérebro a latejar. Quero descançar. Mas também quero alcançar os meus sonhos, e para isso terei de trabalhar. Mas e se nunca os alcançar, ficarei frustada? Continuarei? Pararei? - Disse ela.
Não quero parar de pensar, só quero ver os louros e descançar. - Pensou ela.

segunda-feira, março 09, 2009

trigésima primeira história. episódio quatro.
Amélia já estava na prisão à cerca de 199 dias, já perdera a conta certa. A única coisa de que tinha certeza era que ao ducentésimo dia de pena era livre. Liberdade que muito outros queriam. Outros sim, ela não. Fugitiva da sua própria casa, e sem a sua única ambição - o eléctrico - já nada a movia. Parada na prisão que estava, por mais estranho que parecesse, ali sentia-se confortável. Era frio, a luz que se fazia sentir era amarela, e acima de tudo havia ferro e madeira. Era o mais parecido com o eléctrico que conseguia arranjar! Assim, no dia em que lhe foi cedida a liberdade, Amélia não queria abandonar a prisão. Perdera a sua casa pelas 6 rendas que não pagou. Na casa dos seus pais sabia que não era bem-vinda e desde que saiu de lá nunca mais soubera nada deles, nem eles dela. Era uma só num mundo grande percorrido por carris do eléctrico. Foi exactamente neste raciocínio depressivo que fez a grande resolução da sua vida! Se aguentara 200 dias numa prisão sob condições precárias aguentaria muito mais, desde que, estivesse feliz. Então, pegou na sua mala, onde a única coisa que lá valia era o recorte com o reclame do eléctrico em leilão e fez-se ao caminho.
A partir desse dia, Amélia foi viver para os carris do eléctrico, onde, sempre que queria a sua casa levava-a até aos mais longíquos destinos. À noite os carris eram só seus e de dia podia contemplar a beleza dos eléctricos que passavam de lá para cá e de cá para lá. Era feliz.

domingo, março 01, 2009

segunda história trigésima


Era uma vez um copo de água muito infeliz porque tinha
pouca
sorte teve a rapariga por não saber aonde se estava a
meter
lá dentro qualquer coisa. Ainda assim continuava
azul
, amarelo, verde, vermelho, branco, preto, pouco contraste,
muito gordo. Ele era obeso! Mas tinha muitos amigos
todos
os seus amigos já a tinham avisado que não se devia meter
em principio lá na montanha chovia sempre nas manhãs de
Agosto
que era o mês mais problemático, atendendo ao tempo livre
que bonito era aquele pôr do sol! Admirado, Oliver
chorava
, porque todos a tinham avisado dos problemas que aquela relação teria trazido.



Sentadas no largo falavam sobre as coisas mais inóspitas da
vida, sem saberem que alguém estava a ouvir todos os seus
pensamentos, eles continuavam a pensar porque ninguém consegue
parar de pensar e eles nem desconfiavam que tivessem
tão pouca sorte no que toca àqueles assuntos ranhosos
que não falavam sobre nada, mas sobre tudo o que eles
mais queriam era voar, e os outros sabiam-no bem,
também queriam querer voar, mas esta espécie não tinha
essa capacidade, ficavam apenas pelo fundo do mar e
à beira da praia a olhar para o céu, esperando esse dia.



Inês T e Inês R, obrigada.

domingo, fevereiro 15, 2009

trigésima primeira história. episódio três.

Passados poucos dias Amélia continuava inadaptada na sua própria casa. E para não bastar, todas as noites sonhava com o eléctrico, impávido e sereno, abandonado numa sala escura, apenas iluminada pela luz amarela-dourada do eléctrico. Assim, Amélia vivia inquieta e desassossegada até ao dia em que tomou uma grande resolução!
Pegou nas suas coisas e fugiu da sua própria casa. De mala feita deixa a sua casa com o intuito de nunca mais voltar. Fecha a porta atrás de si e entra no eléctrico. Ainda no breu da noite volta a uma casa onde já tinha estado - a leiloeira - à socapa, entra no prédio. Tenta várias portas, mas estão todas trancadas. De repente repara numa porta mais ao fundo, por debaixo desta porta é visível uma luz amarela-dourada que ilumina o seu interior. Amélia sorri, ela sabe perfeitamente o que está por trás daquela porta relativamente maior que todas as outras. Amélia aproxima-se, pousa a mão sobre a maçaneta e roda o pulso, a porta abre.

O eléctrico, comprado naquela tarde por um casal caprichoso, em que o eléctrico não passou de mais um capricho, ficando assim o eléctrico guardado ou abandonado naquela sala à espera que o fossem levantar.

Amélia fecha os olhos com força com medo que tudo isto não passasse de mais um sonho. Mas quando os volta a abrir o eléctrico continua à sua frente como que a desafiasse a entrar e a conduzi-lo. Amélia apressasse e empurra o eléctrico até aos carris na rua e prepara-se para uma grande viagem que só acabaria no meu maior sonho - viver no eléctrico.
Já há duas horas que Amélia viajava em êxtase de alegria no eléctrico, quando ao longe, um som ecoa nas ruas - ti-ri-ri-ri - o eléctrico polícia surgia ao fundo com as suas luzes a rodopiar e iluminando as ruas de azul e vermelho.

sábado, fevereiro 14, 2009

São como agulhas que levemente penetram a minha bolha, e deixam entradas e saídas de ares de influências. A bolha mantêm-se intacta pela força das minhas experiências, mas será que por outras e novas influências, essas agulhas virão a ter razão? Espero que não. Sou racionalismo puro e intacto, sentimento fragmentado e analisado enganado por utopia e imaginação. Por isso uso o cérebro em vez do coração, planeio tácticas para viver sem desilusão. Há quem diga que vivo na ilusão. Talvez sim, mas esta ilusão tem origem do real que me proporciona a matéria-prima para construir este novo mundo complexo e organizado na sua própria desorganização, que me envolve numa bolha de protecção. Não digo com isto, que rejeite tudo o que é exterior, simplesmente a minha visão fica turva e enublada pelos gases da minha especulação. Espreitarei agora por estes novos furos que libertam a minha visão, quiçá um dia se deixarei voar este balão.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

trigésima primeira história . episódio dois

César já está em casa há um mês, a sua figura é agora esbelta e tonificada e o seu ego enche largamente as pequenas proporções da casa. O frigorífico, outrora cheio de doces e pratos cheios de calorias, ostenta agora produtos dietéticos e uma enorme variedade de verduras. O fundo falso do armário das panelas em tempos cheio de chocolates, está agora cheio de barras muesli, o alimento preferido de César desde que voltara da clínica.
Amélia, que recebera finalmente atenção na ausência do irmão, fica muito incomodada com o seu regresso porque César voltara a ganhar toda ou ainda mais importância do que já tinha quando ainda era obeso. O seu único refúgio continua como sempre a ser o seu armário onde permanece, imaculado o seu poster do eléctrico 28.
Um dia Amélia acorda a meio da noite cheia de dores nas costas de ter adormecido mais uma vez dentro do armário e toma uma decisão. Arranca o poster da parede do armário com muito cuidado para não o danificar e encaixa-o dentro de um tubo de cartão que já tem guardado há uns tempos, prevendo a chegada deste dia. Amélia põe um conjunto de roupa, a sua roupa interior lavada e a sua higiene na mala e volta a entrar no armário onde fita a parede de onde acabara de tirar o poster, na madeira do armário havia um pequeno rectângulo recortado, Amélia dá um toque no canto inferior direito desse rectângulo e a placa de madeira que o forma cai ao seu colo, abrindo um pequeno buraco na parede onde não cabe nada mais do que o seu porquinho mealheiro. Amélia volta a sair do armário e guarda também o porco na mala. Sorrateiramente dirige-se à porta de casa, inspira fundo, sorri e sussurra "adeus". Do lado de fora fecha a porta atrás de si e apanha o eléctrico, onde dorme o resto da noite.
Quando Amélia acorda já o eléctrico tinha feito o seu circuito 7 vezes. Amélia saiu em frente a um prédio extremamente amarelo e luminoso de onde uma voz grossa e profunda se propagava pelas janelas abertas. Amélia senta-se nos degraus da porta principal; parte com uma patada, o seu mealheiro e conta o seu dinheiro. Depois debruça-se sobre o molho de moedas de cobre, fazendo com que a sua cara fique também dessa cor pela luz que as moedas reflectem. Ao todo Amélia tem 2 moedas de mil e várias de latão que rondam os 250, com as duas mãos agarra às punhadas as moedas e coloca-as no bolso do seu casaco. De seguida, tira de um pequeno bolsinho da parte interior e traseira, quase secreta, da sua mala um recorte de um réclame. Esse bocadinho de papel apresenta uma figura já bem conhecida de Amélia, o eléctrico! Mas, com uma particularidade: é um anúncio a um leilão onde a base de licitação são umas míseras 100 unidades e a estimativa feita pela leiloeira não passa as 2000. Amélia sorri, desde a noite anterior ao internamente do seu irmão que achava que nunca mais iria conseguir concretizar o seu sonho - juntar dinheiro suficiente para comprar um eléctrico e morar nele - mas a esperança volta a encher-lhe o coração! Apressadamente, entra no prédio e corre até à sala com as moedas a tilintarem no seu bolso. Na sala, o homem da voz grossa e profunda gritava valores cada vez mais altos. Quando chega à sala o eléctrico tinha acabado de entrar em licitação, mas o preço subia loucamente a casa segundo. A calma que a sala tinha outrora, era agora interrompida pelo relato apressado do senhor da voz grossa e profunda, e pelas variadas raquetinhas numeradas que se iam levantando. Rapidamente as possibilidades de Amélia são ultrapassadas o que a faz abandonar a sala e voltar a sentar-se nos degraus da entrada. Está atónita como o seu maior sonho lhe escorreu tão facilmente por entre os dedos. Aos poucos ganha coragem para se levantar e caminha lentamente pelos carris do eléctrico até à loja imobiliária onde lhe alugam uma pequena casa por 1800 und. Amélia paga a primeira renda com o dinheiro que houvera poupado e reúne esforços para vir a trabalhar como condutora do eléctrico. O que consegue em menos de 20 dias, conseguindo juntar o dinheiro suficiente para pelo menos a segunda renda da casa. Amélia apesar de todos os desgostos que viveu nos últimos meses está agora calma e feliz. Por enquanto.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Agridoce.

Era uma vez uma menina de duas caras. Tudo o que vivia tinha um sabor agridoce na sua vida. Eram memórias perdidas que assombravam os momentos bons do presente e sempre que sorria, vertia uma lágrima pela dor que nunca houvera chorado.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

trigésima primeira história . episódio um

Era uma vez uma família portuguesa. Composta por: um pai - Adolfo, tipicamente sócio do Benfica que profissionalmente faz chaves. Uma mãe, Emília, carinhosa como qualquer mãe, divide o seu carinho não só pelos seus filhos, como pelos dos outros, não fosse ela uma boa mulher-a-dias. Um filho, César, obeso desde que nasceu, pouco dotado de inteligência (permanece no primeiro ano da faculdade à demasiados anos). E por mim, um filha, Amélia - uma adolescente normal que tem como único objectivo na vida conduzir o eléctrico.

Embora tudo aponte para um jantar normal, este jantar tornar-se-á totalmente peculiar. Amélia está sentada à mesa com toda a família, ao centro está a panela a fumegar. Emília, a mãe, ainda de avental começa a servir toda a família. Primeiro o filho mais velho – César que está sentado numa cadeira mais resistente do que o resto da família, os braços dessa cadeira foram serrados para que César coubesse nela. Emília enche o prato do filho brutalmente e, de seguida, serve o resto da família com quantidades consideravelmente menores.
Amélia espalha a pequena porção de arroz com atum pelo prato. Embora o ambiente do jantar seja festivo, Amélia apresenta uma expressão triste apoiando a cabeça sobre a mão esquerda.
No fim do jantar toda a família se levanta e dirige-se, apressadamente, cada um a seu quarto. Regressando todos com um porquinho mealheiro debaixo do braço. Os quatro porquinhos mealheiros estão pousados em cima da mesa, assim como a loiça suja do jantar, ainda por levantar. O pai aproxima-se com o martelo em punho. O primeiro porco a partir é o de Amélia. STRAZ! Todas as moedas que Amélia tinha amealhado até ali espalham-se pela mesa, ao todo Amélia juntou quatro moedas douradas de mil. Depois foi o porco da mãe, este mealheiro compilou três moedas douradas e uma prateada. O pai, todo confiante, parte o seu mealheiro de onde caem apenas duas moedas: uma dourada e uma prateada. Logo a seguir, César, brutamente, rouba o martelo ao pai e parte o seu mealheiro em êxtase. A sua confiança desvanecesse logo de seguida: do mealheiro apenas saem três papéis de chocolates amachucados. César desata a chorar provocando um ruído ensurdecedor! Entre a respiração atrapalhada, os soluços e as lágrimas, César enfurecido pergunta "QUEM COMEU OS MEUS CHOCOLATES?". A mãe, apressadamente dirige-se à cozinha, abre o armário, tira duas pilhas de pratos, enfia-se dentro do armário e lá bem ao fundo desprende um fundo falso de onde tira um, de muitos chocolates, para dar ao filho de maneira a acalmá-lo.
Entretanto, Amélia escapa-se da sala de jantar e vai-se sentar, com uma lanterna, dentro do armário do seu quarto a admirar o seu poster do eléctrico onde acaba por adormecer.
No dia seguinte, toda a família segue viagem para a clínica. O pai conduz a 4L branca, César vai no lugar do morto com o banco e o respectivo encosto, chegado ao máximo para trás. Emília e Amélia vão no banco de trás, dividindo o banco esquerdo atrás de Adolfo pelas duas.
Ao chegarem à clínica, duas enfermeiras extremamente magras e esbeltas esperam o carro com uma cadeira de rodas extremamente grande. César sai do carro e senta-se na cadeira. As enfermeiras empurram o pesado corpo até à porta da clínica onde pai, mãe e irmã acenam como despedida enquanto César entra.
Ao chegarem a casa, está uma carta sobre o tapete de limpar os pés. Adolfo observa a carta com curiosidade. Dentro do envelope está uma fotografia de previsão do estado do seu filho após a operação - a fotografia mostra a cara de César, à tantos anos escondida atrás de gordura e apresenta um corpo tonificado. César está elegantíssimo! Além da fotografia, no envelope vem também uma carta em fole, bastante comprida, essa carta apresenta o orçamento justificado e na última página estão, em letras garrafais, “COLOCAÇÃO DE UMA BANDA GÁSTRICA – 9000$”. Adolfo, volta a guardar o orçamento no envelope e mostra a fotografia à mulher entusiasmado.

domingo, janeiro 11, 2009

centésimo post, quem diria.

Tanto para dizer e tão pouco escrito. Acho que ao fim de 100 a minha imaginação acabou. Sinto que não há metáforas nem histórias que retratem o que quero dizer. Assim, prefiro não dizer nada e simplesmente abrir uma celebração. Uma celebração à mudança, à aprendizagem e espero que, ao crescimento e ao amadurecimento.

Um brinde. Não, cem brindes.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

página 250

"4) A poesia de O'Neill faz o elogio do cinema, no século em que a importância dessa arte se torna central.
A imagem - imago - é a imobilidade. Mas o som é o movimento, a vibração, a propagação das ondas. A poesia é como o cinema, ou melhor, o cinema é uma forma de poesia, no sentido em que as imagens em sucessão de instantâneos fotográficos se transmutam em movimento: essa operação de alquimia técnica - a produção de uma ilusão perfeita de movimento - atinge a perfeição como o facto de se passarem a ouvir as vozes. Mas os sons, de certo modo, sempre lá estiveram, como na primeira imagem a do comboio a entrar na gare de La Ciotat, está o ruído das rodas, o apito da sirene, o ranger dos travões, o silvo do vapor.
A poesia (pelo menos a poesia segundo O'Neill) é também a criação de um efeito pelo choque de imagens, e também, tal como o cinema, só se realiza completamente quando é dita em voz alta."
Fernando Cabral Martins

Alexandre O'Neill,
Já não está cá quem falou,
Assírio & Alvim